Muito prazer!

Para os que ainda não me conhecem, muito prazer, meu nome é Letícia. Uma mulher que cansou de ser torturada pelas próprias idéias. Esse blog nasceu da minha esperança de que, a partir do momento em que eu passasse a compartilhar meus pensamentos, os mesmos deixariam de me acordar no meio da noite.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O horror em números.

Hoje, seis de agosto de 2010, o lançamento da bomba atômica em Hiroshima pelo exército dos EUA completa 65 anos.
Se estima que 140 mil pessoas tenham morrido, até o fim do ano de 1945, em conseqüência do ataque, sendo que esse número pode chegar a 250 mil quando se contabilizam as mortes posteriores causadas pela exposição a radiação. Muitos dos sobreviventes do ataque sofrem de doenças causadas por essa exposição até hoje.
Três dias depois, outra bomba atômica seria lançada pelos EUA sobre Nagasaki.
Os que defendem esses bombardeios os descrevem como um tiro de misericórdia - as bombas atômicas teriam poupado vidas encerrando a guerra mais rapidamente. Os que condenam os bombardeios acreditam que a rendição do Japão já era fato quase consumado, e que viria em pouco tempo, mesmo sem o uso de armas nucleares.
A verdade é que números, debates políticos, análises de estratégias militares, nada disso nunca poderá dar conta da devastação provocada pelas explosões atômicas.Os relatos dos sobreviventes descrevem a transformação instantânea das duas cidades em verdadeiros infernos terrenos.
Enviado especial da revista The New Yorker ao Japão, o jornalista John Hersey reuniu alguns desses relatos em "Hiroshima", um dos livros mais importantes sobre o tema. Seguem dois trechos do livro:

Uns vinte homens e mulheres estavam no banco de areia. O Sr. Tanimoto aproximou-se e os convidou a embarcar. Eles não se mexeram: estavam fracos demais para se levantar. O pastor estendeu os braços e tentou puxar uma mulher pelas mãos; porém a pele se desprendeu como uma luva. Profundamente abalado, o Sr. Tanimoto teve de se sentar por um instante, ao fim do qual entrou na água e, embora fosse um homem miúdo, carregou vários feridos para a chalana. Todos estavam nus e tinham as costas e o peito pegajosos, frios e úmidos. O reverendo se lembrou das grandes queimaduras que tinha visto durante o dia: amarelas a princípio, depois vermelhas e intumescidas, com a pele solta, e, à noite, supuradas e fétidas. [...]

 ..] Quando retornava com a água, o jesuíta se perdeu, ao desviar de um tronco caído, e, enquanto procurava o caminho, ouviu uma voz, perguntando entre os arbustos: “O senhor tem alguma coisa para beber?”. O padre viu um uniforme. Julgando tratar-se de um soldado, aproximou-se, mas, ao penetrar na vegetação, deparou com uns vinte homens, todos no mesmo estado horripilante: o rosto inteiramente queimado, as órbitas vazias, as faces marcadas pelo líquido que escorrera das córneas derretidas. (Deviam estar olhando para cima quando a bomba explodiu; talvez pertencessem á defesa antiaérea). Sua boca se reduzira a uma chaga intumescida e coberta de pus, e eles não podiam juntar os lábios para receber o bico da chaleira. O padre [alemão] Kleinsorge utilizou uma haste de grama como canudinho e dessa maneira lhes aliviou a sede. “Não enxergo nada”, um deles falou. “Há um médico na entrada do parque”, o jesuíta informou, no tom mais animador que conseguiu imprimir à voz. “Ele está ocupado no momento, mas logo há de vir cuidar de seus olhos, espero”.


Diante de histórias como essas, que sentido podem fazer meia dúzia de números?





4 comentários:

  1. Parabens pela iniciativa! Talvez a memoria evite a repetição

    Clea.

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  2. Let,
    eu li esse livro, "Hiroshima", h'a um tempinho atras ja. Sao depoimentos de seis pessoas que presenciaram a explosao da bomba, neh?

    Lembrei de ti esses dias. Comecei a ler "A imortalidade" do Kundera, e fiquei pensando como ele um grande romancista mesmo, um grande.

    Bom blog pra ti! Acompanharei!
    Bjos,
    tomas

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  3. Muita merda por aqui! Blogs viciam e são uma delícia!

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  4. Todo ano nesta data lembro destas bombas. E elas sempre me lembram que o horror continua...

    65 anos! E não aprendemos nada...

    Parabéns pelo texto, meu amor. Parabéns pela lucidez e pela delicadeza.

    Que seu blog lhe seja uma doce fonte de alegria.
    bjins

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