Muito prazer!

Para os que ainda não me conhecem, muito prazer, meu nome é Letícia. Uma mulher que cansou de ser torturada pelas próprias idéias. Esse blog nasceu da minha esperança de que, a partir do momento em que eu passasse a compartilhar meus pensamentos, os mesmos deixariam de me acordar no meio da noite.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Eu só acredito em mim

Amanhã John Lennon completa 70 anos. Não digo que ele completaria 70 anos se estivesse vivo, por que ele faz parte de um seleto grupo de seres humanos que conseguiu ganhar da morte. Pelo menos até agora...
O que John Lennon ainda tem a nos dizer hoje? Eu acho que sua mensagem mais atual está na letra de God :

"Eu não acredito em mágica, eu não acredito em I-Ching, eu não acredito na Bíblia, eu não acredito em Tarot, eu não acredito em Hitler, eu não acredito em Jesus, eu não acredito em Kennedy, eu não acredito em Buda, eu não acredito em Mantra, eu não acredito em Gita, eu não acredito em Yoga, eu não acredito em reis, eu não acredito em Elvis, eu não acredito em Zimmerman, eu não acredito nos Beatles, eu só acredito  em mim..."

Religiões, ideologias, tecnologia, movimentos  políticos, sociais, culturais , messias, gurus, presidentes, revolucionários, astros do rock... nada nem ninguém vai nos trazer a grande solução, nos revelar todas as respostas, nos indicar o caminho. E para os que, na época em que john estava lançando seu primeiro disco solo depois do fim dos Beatles, ainda esperavam que ele salvasse o mundo, ele respondeu, na mesma letra:

"Eu era o fabricante de sonhos, mas agora eu renasci. Eu era a morsa, mas agora eu sou John. Então, queridos amigos, vocês precisam continuar. O sonho acabou."

O sonho acabou. Não há como saber se John se referia apenas ao fim dos Beatles, ou se já estava percebendo o fim do sonho da geração paz e amor. Mas a medida que este foi sendo dado por perdido, a frase emblemática de John foi ganhando cada vez mais peso.

"O sonho acabou" é a frase que muitos escolheriam para definir, não só aquele momento, mas tudo o que se viveu dali em diante. As utopias que incendiaram o século XX, e os românticos movimentos que mobilizaram multidões nos anos 60, deram lugar ao pragmatismo e a objetividade, e essa é a tônica que rege os nossos tempos.

Mas eu prefiro a frase "eu só acredito em mim". De uns tempos pra cá se tornou lugar comum dizer que estamos vivendo uma época marcada pelo individualismo, usando esse termo como sinônimo de egoísmo. Geralmente esse lugar comum vem acompanhado de uma nostalgia das grandes passeatas, dos grandes festivais, ou de qualquer tipo de mobilização coletiva característica dos anos 60. Mas quando John Lennon diz "eu só acredito em mim", ele joga um outro olhar sobre o fim do sonho.

Para fundar uma religião, fazer uma revolução, ou um festival de rock, é preciso ter muita gente seguindo uma mesma pessoa ou idéia, que todas essas pessoas acreditem estar acima de tudo e de todos. Com tanta gente acreditando tão cegamente na mesma coisa, é possível realizar tanto Woodstock quanto o Holocausto. Acho genial a cena do filme The Wall, em que um show de rock é retratado como um comício nazista. O poder das multidões pode ser manobrado para alcançar tanto os objetivos mais nobres quanto os mais podres.

Em contraponto ao poder das multidões temos o poder do indivíduo. O segundo pode ser tão construtivo ou devastador quanto o primeiro. A diferença é que quando um indivíduo escolhe acreditar em si próprio - e não em uma seita, um partido, ou um herói qualquer - é só ele quem decide para o que a sua força pessoal vai contribuir.

O egoísmo e a indiferença são atemporais, assim como a solidariedade e o desejo de transformar. E como a postura dos egoístas e dos indiferentes é sempre muito parecida em qualquer tempo, o que difere uma época da outra é a forma como agem aqueles que querem dar a sua contribuição. O que passou a se observar nesse sentido, depois que o sonho da geração que queria mudar o mundo acabou, foi uma forma de ação descrita naquele famoso conselho do Green Peace: "Pense globalmente, aja localmente". Para ajudar a salvar o planeta você não precisa mobilizar uma multidão. Você pode se organizar com os seus vizinhos para que o lixo das casas da sua rua tenha coleta seletiva. Essa forma de fazer a diferença não se observa só no que diz respeito ao meio ambiente. Hoje em dia existem ongs, grupos, pessoas, agindo de acordo com essa filosofia nas mais diversas áreas.

Dizer "eu só acredito em mim" pode ser uma forma de ser pragmático, objetivo, e até individualista, como nosso tempo exige, sem deixar de ser um sonhador.