Muito prazer!

Para os que ainda não me conhecem, muito prazer, meu nome é Letícia. Uma mulher que cansou de ser torturada pelas próprias idéias. Esse blog nasceu da minha esperança de que, a partir do momento em que eu passasse a compartilhar meus pensamentos, os mesmos deixariam de me acordar no meio da noite.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Whatever works

"No fim, todos os sonhos da sua juventude se resumem a whatever works"

A frase é de Boris Yellnikoff, protagonista de "Whatever works", ultimo filme de Woody Allen. No Brasil, o titulo do filme foi traduzido como "Tudo pode dar certo", o que gerou alguma controvérsia.

Whatever quer dizer qualquer coisa, works quer dizer funciona, uma tradução literal para whatever works seria qualquer coisa funciona, ou qualquer coisa serve. Mas também se pode traduzir whatever works como qualquer coisa que funcione, qualquer coisa que sirva, ou até qualquer coisa que dê certo, qualquer coisa que possa dar certo. Já são duas possibilidades bem diferentes entre si, e ambas são ainda mais diferentes da opção tudo pode dar certo.

Acho interessante observar que as três possibilidades de tradução acabam expressando três visões diferentes da mesma questão. Substituindo a expressão whatever works por cada uma dessas opções na frase de Yellnikoff citada no início do texto, podemos concluir que, na visão do personagem, no fim, todos os sonhos da sua juventude se restringem a qualquer coisa serve. Ou que, no fim, todos os sonhos da sua juventude se restringem a qualquer coisa que possa dar certo. Ou então que, no fim, todos os sonhos da sua juventude se retringem a tudo pode dar certo.

São três formas completamente diferentes de lidar com o fato de que você não vai realizar os sonhos da sua juventude: aceitar qualquer coisa que aparecer, acreditando que, uma vez que você não vai realizar seus sonhos, tudo vai ser igualmente ruim; escolher, entre o que aparecer, aquilo que você achar que pode dar certo; aceitar qualquer coisa que aparecer, convicto de que tudo pode dar certo.

Esses três caminhos diferentes têm uma coisa em comum: todos começam naquele lugar em que você se dá conta que sua vida não vai ser como você sonhou.

Um comentário:

  1. A nossa vida pode até não ser como a gente sonhou que seria, mas isso está longe de simplesmente aceitar qualquer coisa que dê certo, pois isso seria aceitar que na verdade nosso sonhos eram mito frágeis. Rilke, nas “Cartas à Um Jovem Poeta”, diz - ao jovem poeta, claro: “Na hora mais tranquila da noite faça a si esta pergunta: “Sou de fato obrigado a escrever?” – Examine-se a fundo, até achar a mais profunda resposta. Se ela fôr afirmativa, se puder fazer face a tão grave interrogação com um forte e simples “Sou”, então construa a sua vida em harmonia com essa necessidade.”
    Então eu digo que, se em algum momento de nossa vida - qualquer momento - podemos trocar nossos sonhos por qualquer coisa que possa dar certo; ou que qualquer coisa serve para substituir nossos sonhos; ou ainda, que tudo pode dar certo, restringindo nossos sonhos a qualquer coisa que consigamos; então na verdade estávamos sonhando que estávamos sonhando. Não tínhamos, na verdade, um Sonho. Um Sonho nos obriga a encontrá-lo (como aconteceu com Fernando Sabino e com Paulo Coelho) para nos cobrar o compromisso que tínhamos com ele. Um Sonho não é somente algo que almejamos, um objetivo que traçamos para nossa vida. É algo muito, muito maior. É uma Entidade com Vida própria com a qual nos comprometemos muito antes de nascermos. Por isso não conseguimos simplesmente esquecê-lo no meio da jornada, por mais difícil e complicada que esta se torne, e aceitar qualquer coisa que dê certo, que fique mais ou menos confortável, em troca dele.

    Mas também não podemos esquecer que Yellnikoff é um refinado maluco, intolerante e impossível, e que, de alguém como ele - para quem o mais importante da vida é reclamar, vociferar e lamentar-se - não se poderia esperar nada diferente do que uma conclusão como essa. Maluco por maluco prefiro ficar com Doc Brown, o cientista doidaço de Back To The Future quando diz que : “Quem se dedica tudo consegue.”

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